segunda-feira, 14 de março de 2011

14 de Março - Dia Nacional da Poesia

Impossível escolher uma poesia preferida para comemorar o dia de hoje.
São infinitos escritores, infinitas palavras que expressam o amor pelas letras e pela dor.
Ah! As poesias de dor, essas são as minhas favoritas. Sempre foram.
Desde os 9 anos de idade gostava de pegar meu giz colorido e escrever rimas bobas no meu quadro negro.
Deixava o texto lá, cheio de cor e envolto em desenhos por exatos sete dias.
Depois apagava. Nunca fui de guardá-las em um caderno. Parecia que eu carregava dentro de mim a maior dor do mundo. Escrever era a úncia forma de colocar aquela dor pra fora, e eu não queria senti-la de novo, tendo que ler aquelas poesias outra vez.
Foi somente com 14 anos que resolvi escrevê-las em um caderno, algumas eu guardei, algumas joguei, outras nem terminei.
Ganhei concursos de poesia na escola. Lembro-me que a poesia premiada com o primeiro lugar foi a que escrevi pro meu primeiro namorado, aquele da dor mais sentida, do choro mais ansioso, da perda mais dolorida. Meu primeiro amor.
Mas hoje pra comemorar essa data, o Dia Nacional da Poesia, não achei nada mais justo do que escrever aqui, a primeira poesia que eu me lembro de ter lido. Era aula de português, tinha 13 anos de idade, foi ali, naquele momento que apaixonei por ela, pela POESIA.
Era ele, Fernando Pessoa. Eh..Eu comecei bem! =)

Quando Ela Passa
(Fernando Pessoa)

Quando eu me sento à janela
P'los vidros qu'a neve embaça
Vejo a doce imagem d'elia
Quando passa... passa.... passa... 

N'esta escuridão tristonha
Duma travessa sombria
Quando aparece risonha
Brilha mais qu'a luz do dia

Quando está noite ceifada
E contemplo imagem sua
Que rompe a treva fechada
Como um reflexo da lua,


Penso ver o seu semblante
Com funda melancolia
Qu'o lábio embriagante
Não conheceu a alegria

E vejo curvado à dor
Todo o seu primeiro encanto
Comunica-mo o palor
As faces, aos olhos pranto.

Todos os dias passava
Por aquela estreita rua
E o palor que m'aterrava
Cada vez mais s'acentua


Um dia já não passou
O outro também já não
A sua ausência cavou
Ferida no meu coração


Na manhã do outro dia
Com o olhar amortecido
Fúnebre cortejo via
E o coração dolorido


Lançou-me em pesar profundo
Lançou-me a mágoa seu véu:
Menos um ser n'este mundo
E mais um anjo no céu.


Depois o carro funério
Esse carro d'amargura
Entrou lá no cemitério
Eis ali a sepultura:

Epitáfio.
 
Cristãos! Aqui jaz no pó da sepultura
Uma jovem filha da melancolia
O seu viver foi repleto d'amargura
Seu rir foi pranto, dor sua alegria.


Quando eu me sento à janela
P'los vidros qu'a neve embaça
Julgo ver imagem dela
Que já não passa... não passa.


  Liih*